segunda-feira, 28 de março de 2011

Capítulo 3






-Eu não fiz nada! Eu juro Madeline!
A mulher chorava enquanto a outra a olhava com ódio.
Eu não tinha certeza se eu estava sonhado ou se tinha morrido.
Ao contrário da primeira vez que isso aconteceu, eu não senti nada. Não ouvia nada. Só aquela cena que não pertencia a mim.

-Cale a boca! - Gritou uma mulher que eu acreditava ser a tal Madeline, dando um tapa no rosto da moça.

-Eu juro...Eu fugi antes que acontecesse, eu corri, eu não deixei acontecer Madeline, por favor eu te imploro.

-Não deixou acontecer?! - Madeline riu amargamente, segurando a mulher pelos cabelos. - Você sempre quis que isso acontecesse Lise! Você planejou tudo isso não foi? - Madeline a bateu.

-Não. - Disse Lise choramingando.

-Você tem idéia do que eles vão fazer com a gente quando descobrirem? Ou melhor... o que vão fazer com você!

-Não os deixe fazer nada comigo Madeline! Me bata, me humilhe se quiser, mas por favor não diga nada á eles.

Madeline olhou para os lados da casa simples e respirou fundo. Fechou os olhos e começou a aquecer a palma da mão.
Os olhos de Lise se arregalaram e ela começou a tremer.

-Clemência! Perdão por favor! Eu não fiz! Eu não terminei!
Lise se ajoelhava no chão sujando seu vestido de camponesa.

-Você não me deixa escolha Lise. -Madeline chorava também.
Ela pegou o rosto de Lise entre as mãos e a olhou profundamente nos olhos.
Depois os fechou e o ar a sua volta parecia sob seu comando.

As folhas se agitavam e as árvores pareciam dançar, eu via tudo aquilo tendo a quase certeza que ninguém podia me ver.

Madeline disse algumas palavras que eu não entendi, porque estavam em uma língua estranha.
Então Lise piscou os olhos e parecia confusa.

-Senhora? A Senhora está bem? - Lise parecia preocupada com Madeline.

-Perfeitamente. - Disse Madeline sorrindo timidamente. - Lise... se lembra de algo relacionado ao Duque d' Lancrer?

Lise gritou de puro terror e eu fui puxada de volta para a realidade.
Cores giravam na minha cabeça e parecia que eu estava no meio de um redemoinho gigante e colorido.

Acordei de meu estranho "sonho" tremendo e chorando.
Eu estava deitada na cama como se estivesse tirando um cochilo.
Mas eu tinha certeza que antes do "sonho" começar, eu estava estudando e meu dedo havia sido queimado.
Olhei minhas mãos e elas estavam perfeitamente normais.
Levantei-me e fui me olhar no espelho.
Estava tudo aparentemente normal, menos o fato do meu quarto estar cheio de folhas, como se realmente houvesse um redemoinho, e meus olhos estarem mais claros do que de costume.

Capítulo 2






-Você quer uma bolsa térmica? – A mulher da enfermaria me perguntou.
-Não obrigada.
Depois que eu me levantei do chão no ginásio, todos ficaram preocupados comigo e o professor me mandou direto pra enfermaria.
Suzi chegou e sentou-se ao meu lado na cadeira de plástico.
-Você está bem? – Ela me olhava preocupada.
-Ótima Suzi. – Eu encarava as minhas mãos pálidas.
-O que foi aquilo no ginásio Anne? Eu fiquei com medo.
Eu não sabia se deveria contar a verdade pra Suzi, afinal se ela já estava assustada em me ver naquele estado, imagine quando eu lhe contasse o que acontecera. Mas ela era a minha melhor amiga, a única pra falar a verdade. Decidi então contar.
-Eu acho que eu meio que desmaiei. Sabe, quando a bola me acertou.
-Eu quero dizer, o que aconteceu quando você caiu Anne? Você estava de olhos abertos mais parecia que não via nenhum de nós.
-E não via mesmo Suzi! Eu podia ouvir cada um de vocês, mas não conseguia responder. Era como se eu estivesse em transe sabe? – Me virei pra ela para olhar a sua expressão. Ela estava com os olhos arregalados.
-Nossa. – Disse Suzi.
-Não sei o que seria de mim se você não tivesse gritado o meu nome. – Disse a ela me sentindo muito grata.
-Eu não te chamei Anne. – Ela me olhou como se eu fosse louca.
-Como não?! Eu estava lá parada feito pedra, estava ouvindo você conversando, ouvia o som do rio e sentia o sol, então você gritou meu nome eu acordei! – Eu estava ficando com medo disso.
-Que negócio é esse de rio e sol? Anne, você estava dentro da escola. – Ela pareceu duvidar da minha sanidade mental.
-Esquece o negócio do rio e do sol. Você realmente não chamou meu nome?
-Não. E você acordou de uma maneira muito estranha Anne. Parecia que você estava se afogando ou coisa assim. E depois levantou de uma vez, puxando ar para os pulmões. É sério, todos ficaram com medo.
-Bem... Então faço parte da lista dos que ficaram com medo.
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Cheguei em casa cansada, parecia que eu tinha arrastado um trem com as próprias mãos.
Acabei sendo dispensada mais cedo. Acredito que eles temiam que eu ficasse doida na sala.
A casa estava muito silenciosa. Ninguém estava lá.
Achei aquilo um milagre. Nem Brianna, nem Louise, nem Sra. Hadson para me atormentar.
Lembrei-me que eu tinha que estudar para a prova de história da semana seguinte, então peguei um copo de suco na geladeira e fui para o meu quarto (que ficava perto da área de serviço) e fui estudar.
No começo eu li tudo com uma concentração enorme, como se as letras fossem saltar e entrar na minha cabeça. Depois eu estava achando aquilo um tédio, e não conseguia fazer mais nada a não ser apenas foliar o livro.
Vi uma ilustração interessante. Mulheres sendo queimadas vivas numa fogueira.
Passei os dedos pela figura, ate que fui sentindo um calor na ponta dos dedos, até que o calor queimou meu dedo.
Fiquei chocada com aquilo, e estava decidida a fechar o livro, foi então que aconteceu.
Eu senti o calor cada vez mais perto de mim, eu tentava me mover mais não conseguia, a sensação era exatamente a mesma do ginásio.
Eu apenas ficava observando o fogo tomar forma, e consumir lentamente o meu quarto inteiro.
Consumir lentamente a mim.

domingo, 27 de março de 2011

Capítulo 1




-Mais rápido!- Brianna gritava pra mim.
Eu apenas abaixava a cabeça e limpava a sujeira que ela acabara de fazer.
-Anne pare de ser tão mole! Esfrega isso direito, estou vendo a sujeira daqui.
Pra falar a verdade, Brianna estava de óculos escuros lendo uma revista idiota, então mesmo que a sujeira fosse do tamanho de uma piscina, não teria como ela ver.
Respirei fundo e esfreguei com mais força a mancha na mesa.
Eu moro com a Sra. Hadson e suas filhas, Brianna e Louise.
Eu sou adotada, mesmo que não me dissessem não haveria como eu não descobrir, afinal a diferença de tratamento comigo e com elas era imensa.
Olhei o relógio da cozinha e percebi que estava atrasada para a escola.
-Droga! Tenho que ir. – Joguei o pano e tirei o avental.
-Onde pensa que vai? – Disse Brianna levantando um pouco os óculos escuros.
-Pra escola, Brianna, pra onde mais? – Fiz tom de sarcasmo e ela pareceu ficar satisfeita. Pelo menos não me atormentaria pela manhã, agora pela tarde já era outra coisa.
Peguei minha camisa e coloquei por cima da regata, saí pulando de um pé só enquanto amarrava meus tênis.
Peguei o que eu encontrei do meu material e fui até a porta.
Eu tinha que esperar a minha amiga Suzi para poder ir á escola.
O ônibus parava muito longe de casa, e Suzi tinha uma van velha que ela chamava de Andy,ela costumava conversar com o carro dizendo que ele tinha sentimentos.
Fiquei na frente de casa com os braços cruzados olhando toda hora o meu relógio de pulso.
-Vamos Suzi... Tem prova na primeira aula!- Disse a mim mesma.
O carro da Sra Hadson estava saindo da garagem e ela gritava para que Louise entrasse logo nele.
Pude ver Louise entrando no caro, me dando um alegre tchauzinho com um sorriso cruel de líder de torcida.
Quando elas partiram dei-lhes meu dedo do meio.
Após muitos minutos Suzi apareceu com uma cara amassada.
-Onde estava!- Gritei enquanto subia na van.
-Desculpe Anne! Caí no sono, nem meu despertador conseguiu me acordar! – Os óculos de Suzi estavam tortos e embaçados.
-Consegue enxergar alguma coisa com esses óculos? – Perguntei preocupada, afinal ela iria dirigir.
-Perfeitamente! – Ela se ajeitou no banco e me deu um sorriso de entusiasmo.

Chegamos á escola e como eu já sabia estávamos atrasadas.
O professor Blake virou-se na nossa direção e nos deu um sorriso, bem parecido com o sorriso que um gato deve dar ao ver um rato se aproximando.
-Dormiram bem meninas? – Disse ele se aproximando de nós.
-Desculpe. – Murmurei enquanto abaixava a cabeça.
-Então Suzi, qual é a desculpa dessa vez? – Ele parecia um tanto ansioso para ouvir as histórias sem sentido de Suzi.
- Meu gato, professor... – Suzi estava adquirindo um tom choroso.
- O que tem ele? – O professor coçou o queixo.
-Estava morrendo engasgado com ração! Não podia vir pra cá e deixar o pobrezinho morrendo, ainda mais agora que está feliz. Ele anda saindo com a gata da vizinha, professor! Não é magnífico?
Todos na sala riram, até eu.
-Hilariante Sra Delphic, estou rindo por dentro.
-Desculpe. - Murmurou Suzi abaixando a cabeça e rindo baixo.
O professor voltou a dar a aula e eu e Suzi tivemos que fazer a prova na secretaria, porque chegamos atrasadas.
Depois de fazermos a prova, fomos para o ginásio, agora era aula de educação física.
Enquanto passávamos pude ver Louise ensinando passos de torcida para as meninas.
Ela olhou pra mim e fez cara de nojo.
Ninguém na escola sabia que morávamos juntas.
Ela me evitava e me ordenara que nunca falasse com ela enquanto ela estivesse acompanhada, nem quando estivesse sozinha.
E nossos sobrenomes é claro, era diferentes. Ela era Louise Hadson, eu era Anne Campbell.
-Finja que ela não existe- Disse-me Suzi ao meu lado.
-É o que faço todo dia.
Chegamos ao ginásio e todos já estavam em suas marcas. Iríamos jogar queimado.
-Queimado?! – Disse Suzi arregalando os olhos.
O professor sorriu e jogou a bola para Suzi segurá-la, mas Suzi esquivou e olhou para a bola como se ela fosse uma granada.
-É só segurar Suzi. – Disse a ela pegando a bola e jogando de volta ao professor.
-É fácil falar quando você não está na mira dessa coisa.
Então começamos o jogo.
Suzi gritava e corria toda vez que a bola se aproximava dela. Eu...bem, eu me esquivava.
Até que a bola me acertou em cheio no estômago. Caí no chão e ouvi todos rindo.
Eu não me levantei, eles vieram em minha direção e tentavam me acordar.
Eu via toda a cena. O professor me sacudido, e passando a mão perto dos meus olhos que deviam estar abertos. Mas eu não conseguia responder a ninguém. Era como se eu apenas estivesse observando a situação em um ângulo diferente.
Eu podia ver e ouvir tudo o que me diziam, mas não conseguia acordar.
Ouvia também algo que não pertencia á cena. Um rio correndo não muito longe de mim, o calor do sol nas minhas costas, embora eu estivesse deitada e barriga pra cima.
Ouvi também um grito de dor e então alguém gritou meu nome e eu acordei.

Prólogo

Kate atravessou correndo a rua, com medo de ser vista. Carregava nos braços um pequeno cesto envolto em panos.
Sua respiração saía em arfadas, o frio era intenso.
Ela olhava para os lados de dois em dois segundos, tinha a leve impressão de estar sendo seguida. Ela odiou aquilo.
Quando olhou para a frente, encontrou a casa escolhida a dedo pela "Ordem".
Todas as luzes estavam apagadas, os moradores deviam estar dormindo.
Kate colocou cuidadosamente o cesto no chão, e bateu a porta.
Ficou escondida entre os densos arbustos esperando a porta ser aberta.
Segundos depois a porta se abriu e uma mulher com olhos sonolentos olhou para os lados procurando quem batera em sua porta tão tarde da noite.
Ela estava quase fechando a porta de casa quando ouviu o choro.
Um bebê, dentro de uma cestinha, envolto em panos azuis.
Ela pegou a criança e a levou para dentro de sua casa.
Kate respirou aliviada quando a mulher acolheu o bebê.
Quando ela se virava para ir embora ele apareceu. Exatamente como ela se lembrava.
Com olhos ferozes e cruéis, com uma sede por morte que até mesmo Kate podia sentir.
- Onde ela está? - Perguntou o demônio de olhos verdes.
-Não sei do que está falando.- Kate sabia que não deveria contar-lhe a verdade, mas também não deveria irritá-lo, ou então ele a mataria.
-Só irei perguntar uma vez. Onde ela está!- Gritou ele segurando Kate pelos ombros.
-Está morta!- Gritou Kate de volta, chorando descontroladamente.
-Então meu trabalho está concluído- Disse ele a largando e se virando de costas para partir.

O coração de Kate batia freneticamente, até ela podia ouvir o som do seu batimento cardíaco.
Então quando ela pensou que estava finalmente livre do demônio, ele se vira e ela vê uma luz branca.
Só isso mais nada.